Conceição EvaristoEscritora participou da última mesa do Seminário acional de Cultura e Educação – Aprender para Construir

A Conferência de encerramento do Seminário Nacional de Cultura e Educação – Aprender para Construir conseguiu sintetizar as discussões dos últimos dias, a partir da diversidade da composição de sua mesa. Para explicar a importância do livro e da leitura como elo na construção de políticas públicas envolvendo os dois setores, a fala foi das mulheres.  As escritoras Conceição Evaristo (com participação online), Eliana Alves Cruz e Graça Graúna representaram a voz literária feminina, negra e indígena.

O diálogo foi mediado pelo secretário de Formação, Livro, Leitura, Fabiano Piúba, e a Secretária de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão, Zara Figueiredo, que representaram, respectivamente, os Ministérios da Cultura (MinC) e da Educação (MEC). Pastas que realizaram o seminário entre os dias 14 e 16, em Brasília-DF.

Piúba abriu a conferência lendo discurso proferido na Bienal do Livro do Ceará, que homenageou a escritora Conceição Evaristo. “Sua literatura instiga a moçada a escrever seus próprios poemas. Sua arte semeia tempo de aquilombar”, disse.

Conceição disse pensar em uma literatura produzida a partir de um espaço diferente, “com a nossa perspectiva como sujeitos”, explicou. Nesse sentido, ela chamou a atenção para a língua e a linguagem como marcadores sociais, o que significa dizer que qualquer processo de dominação está inscrito em dominação cultural e linguística também.

“Temos de pensar a partir de uma perspectiva nossa e não podemos deixar de pensar que temos uma cultura imposta, uma língua imposta, além de considerar que somos sujeitos de segundo plano ou com deficiência de linguagem. Temos um processo de exclusão, a partir de uma perspectiva de classes dominantes, o que dificulta reconhecimento de nossa produção. Mas ela está aí e está com muita potência”, afirmou.

Para Evaristo, autoras como Carolina Maria de Jesus tiveram dificuldade em ter a obra aceita por causa da linguagem usada. “O conflito da língua e da linguagem permeia a possibilidade e impossibilidade de apresentarmos nossas obras”, reiterou.

Poesia

Com uma fala poética, em que leu uma carta produzida por ela e seus alunos, declamou haikais e reservou um momento para reflexão a partir de uma música, a escritora indígena Graça Graúna defendeu a literatura dos povos originários como de cura. “A palavra tem alma, como diziam nossos parentes guaranis”, afirmou.

A autora reclamou do apagamento das histórias de seus ancestrais e identificou na literatura um espaço para que suas vivências sejam registradas. “Estamos exaustos de falarem por nós. Contra todas as tentativas absurdas de apagamentos, nós resistimos. A gente tem o direito que todas as pessoas têm: o desejo de viver em paz. Apesar de tantos preconceitos, a gente consegue resistir”, enfatizou.

Eliana Alves Cruz disse que sua história pode ser contada a partir de um antes e depois de ter ganho um prêmio literário concedido pela Fundação Palmares, mostrando a importância de políticas públicas voltadas à literatura. Desde então, são sete livros publicados e mais de vinte antologias com textos seus.

Ela criticou o fato de a literatura ter sido colocada em um pedestal e de ser feita e consumida por uma elite. “A gente criou o mito que literatura é alguma coisa sobre fruição e tira a literatura do lugar da reflexão”, alertou.

Encerrando as falas, Zara Figueiredo lembrou a importância da arte e cultura estarem nos ambientes escolares. “A escola salva e, dentro dela, a literatura.

Balanço 

O seminário contou com cerca de 200 pessoas por dia, de todas as regiões do Brasil e ainda de Portugal. Já nos 12 Grupos de Trabalho (GTs), participaram, em média, 25 pessoas, totalizando 300 participantes, mesmo público da cerimônia de abertura. Transmitida também em tempo real pelo Canal do Ministério da Educação na Internet, a programação recebeu milhares de acesso.

O secretário da Sefli, Fabiano Piúba, afirmou que o objetivo do seminário foi cumprido. “Queríamos pautar essa agenda entre cultura e educação dentro de ambos os ministérios, mas também para a sociedade, na perspectiva da retomada, buscar uma ação integrada entre as pastas. Foi um ambiente muito rico e muito potente”, segundo ele.

Para a representante da Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Paraíba,  Vilma Cazé, a emoção de participar do seminário é uma das principais sensações que vai levar. “Me senti muito incluída e muito tocada em alguns momentos, porque esse foi um evento muito potente. É um pontapé para a retomada de todas as políticas públicas, de todos os desejos de inclusão”, afirmou.

Arthur Doomer, integrante do movimento Hip Hop de Teresina-PI, está ávido para chegar ao seu estado e repassar para a comunidade tudo o que aprendeu no evento. “Participei de todos os painéis e de dois grupos de trabalho. Enchi um caderno com anotações. Saio daqui muito afinado e com a sensação de vibração total. Não temos tempo a perder. Há muita coisa para ser feita nessa área”, disse.

Vindo do Ceará, o coordenador da Coordenadoria de Formação da Secretaria de Estado do Ceará,  Ernesto Gadelha, concluiu que foi muito importante a realização do seminário para apontar caminhos possíveis nos próximos anos, que possibilitem investimentos em educação e cultura. “Envolvendo a federação, os estados e os municípios. Sou da área de formação e acho que ela vem antes de tudo porque vai garantir e assegurar a vivência da arte de forma qualificada, bem como toda a cadeia da produção cultural”.

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